domingo, 2 de setembro de 2012

Uma “cratera” gigantesca, um falhanço colossal!

Ainda em férias, os portugueses ficaram a saber que, apesar de terem pago com os maiores sacrifícios os custos da malfadada crise que se abateu sobre este rectângulo, o governo não está a fazer a sua parte, demonstrando a maior incompetência na orçamentação das receitas fiscais. Como resultado, a cratera fiscal que se refere acima.
Os portugueses fizeram a sua parte, foram sujeitos aos mais hercúleos sofrimentos, perderam casas, carros, frigoríficos, foram à falência pessoal, tiraram os filhos dos jardins-de-infância e das universidades, cumpriram. Mas o governo demonstrou a sua incapacidade, o que de resto já não é surpresa. Nos últimos dias, ficou a saber-se que o défice do primeiro semestre deste ano é de 6,9 %, segundo a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, o que significa que as medidas de consolidação previstas não deverão ser suficientes para assegurar o cumprimento do objectivo para o défice orçamental de 2012, ou seja, 4,5 por cento do Produto Interno Bruto.
As medidas do lado da despesa estão a ser executadas: foram cobrados mais 236 milhões de euros de impostos aos trabalhadores e poupados quase 1000 milhões de euros com os cortes na função pública. O governo foi ao bolso dos portugueses em geral e dos funcionários públicos e dos reformados, em particular, a quem extorquiu o subsídio de férias, como todos sabem.
Vítor Gaspar é que está a demonstrar uma incompetência inaceitável a nível da previsão da recolha dos impostos: neste período registou-se um “buraco” de 2,8 mil milhões de euros na receita fiscal (IVA, IRC, ISP, veículos, tabaco).
Este tenebroso panorama depois de um ano de bárbara diminuição dos rendimentos das famílias, da falência de empresas (4338 empresas faliram só nos primeiros oito meses deste ano), de uma taxa de desemprego a níveis exorbitantes (mais de um milhão de portugueses, sendo que mais de 200 mil ficaram sem emprego durante o consulado deste governo), do aumento do número de pobres e indigentes que ultrapassam já os dois milhões de pessoas.
Qualquer merceeiro que saiba fazer contas, sabe que num período de profunda depressão económica, com a economia paralisada, não há acréscimos de impostos (como o engasgado ministro previa, no papel), mas antes a sua diminuição, como a prática acabou por ensinar-lhe. Fazer contas em contrário, só comprova má fé, calculismo político ou, o que é mais certo, inaptidão e incapacidade para o cargo. Um ministro que foi “vendido” como exigente e inflexível, acaba por revelar-se permissivo e aberto a inúmeras excepções que agravam o défice público. Uma lástima!
Ele que tanto fazia gala em falar há um ano do “desvio colossal”, engula agora este vero “falhanço colossal”, que desmerece o país mas humilha o governo e faz cair o país nas piores expectativas quanto à estratégia orçamental.
A austeridade tem sido um fracasso monumental e alguém tem de ser fortemente responsabilizado. Não é certamente o povo português, que não tem mais buracos para apertar o cinto.

NB: Por isso, dão vontade de chorar (esta choldra já não dá para rir!..) as declarações de Passos Coelho, de hoje mesmo, no encerramento da Universidade do Verão do PSD, afirmando que Portugal deve ter a «ambição» de cumprir as metas acordadas com os credores internacionais. Se este país caminha para o precipício, o homem quer dar um passo em frente, levando-nos a todos com ele…
Disse sua excia: «Levaremos este programa de mudança até ao fim e com ambição, precisamente porque queremos concluí-lo tão rapidamente quanto for possível, porque queremos os resultados da inversão da situação do país (…). Só executando este programa com ambição é que poderemos estar à altura das nossas legítimas aspirações».
Preparem-se, pois, os portugueses para mais impostos, para mais cortes nos salários, para mais falências de empresas, para mais insolvências pessoais e familiares, para mais desemprego, para o aumento da emigração, para o ataque à classe média, que os pobres não têm dinheiro e os ricos (empresas, bancos) não podem ser incomodados. Porque são eles que custeiam as campanhas eleitorais do PSD e do PP.
A agenda política deste governo é o empobrecimento generalizado dos portugueses que vivem dos rendimentos do trabalho, o que está a ser conseguido através dos cortes salariais, da redução das férias e dos feriados, da diminuição dos custos laborais, da redução das indemnizações por despedimentos, da facilitação e flexibilização dos despedimentos, enfim, essas aproximações à lógica da exploração chinesa conseguida pelo Código do Trabalho, essa obra de arte que deve “honrar” estes heróis que nos governam, e que oxalá venham um dia a ser vítimas dessas armadilhas em que querem colocar os pobres trabalhadores, para saberem o que custa a vida!...

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