O Dr. João Barroso da Fonte, notável homem de cultura do Minho e de Trás-os-Montes, velho e estimadíssimo amigo, acaba de publicar uma monumental obra literária sob o título D. Afonso Henriques 900 Anos (1111-2011), em edição conjunta da Editora Cidade Berço e da Âncora Editora, com o apoio das três juntas de freguesia da cidade de Guimarães.
A obra impõe-se pela sua dimensão (472 páginas) e estrutura-se em torno da luta do autor pela reposição da verdade histórica: o nascimento do fundador de Portugal, D. Afonso Henriques, em Guimarães, em Julho de 1111, fez agora 900 anos.
Como se sabe, por alegada conveniência política e eleitoral, que teve a ver com as eleições autárquicas de há dois anos, sobretudo para as cidades que reivindicam o local de nascimento do primeiro monarca português (Guimarães e Viseu), mas também para a própria Presidência da República e Governo, distorceu-se a tradição e comemorou-se a data do nascimento do Rei Fundador em 2009.
Contra esse embuste histórico, Barroso da Fonte tem levado a efeito uma autêntica “cruzada”, em inúmeros jornais nos quais colabora regularmente (entre os quais o nosso Povo de Fafe) e de que este livro é o epílogo e conseguido resumo. Com ele, pretende o autor “travar excessos ficcionistas que em 2009 ridicularizaram a historiografia portuguesa, baralharam a opinião pública e adensaram, dúvidas onde elas já eram excessivas e quase irredutíveis”.
O autor, João Barroso da Fonte |
Barroso da Fonte assume as incertezas e dúvidas quanto às datas de nascimento do conde D. Henrique, de D. Teresa e do filho de ambos, Afonso Henriques, numa altura distante da Idade Média da qual escasseiam os documentos e as firmezas e sobram as perplexidades e as interrogações.
Como bem refere o autor, ao longo destes nove séculos sempre essas dúvidas relacionadas com Afonso Henriques foram supridas pela Tradição, recordando que em 1911 (e não em 1909) se comemoraram os oitocentos anos do nascimento do Rei Fundador, que nasceu do casamento (1096) entre os primeiros titulares do Condado Portucalense. Muito provavelmente, aí terá nascido em 25 de Julho de 1111, sendo baptizado na Capela de S. Miguel do Castelo. Em 24 de Junho de 1128 bateu-se contra a mãe e os seus apoiantes na Batalha de S. Mamede, em Guimarães. Consagrado rei em 1143, após a batalha de Ourique (1139), só em 1179 o Papa Alexandre III confirmou o título de rei e a independência do reino de Portugal.
Nos últimos anos, porém têm aparecido estudos e teses dando tempos e locais diferentes para o nascimento de Afonso Henriques. Em certa altura, foi Santa Maria da Feira e há duas décadas atrás o historiador Luís Krus propôs a data de 1109 e o local Coimbra.
Entretanto, surgiu na ribalta um autor viseense chamado Armando de Almeida Fernandes que empenhou os seus últimos anos de vida a tecer a “tese de Viseu”, ou seja, defendendo que o local de nascimento do primeiro rei de Portugal foi naquela cidade beirã, em Agosto de 1109. Publicou mesmo uma polémica obra sobre essa temática, que Barroso da Fonte elege justamente como “bombo” do seu argumentário.
E ele é extenso e interessante, não sendo aqui o momento de ir mais além, por óbvia limitação do espaço.
Acrescem, além da refutação pormenorizada das teses de Almeida Fernandes, a alusão aos congressos históricos de Guimarães, a publicação de 90 crónicas inicialmente editadas no Notícias de Guimarães sob o título “Guimarães, Berço de Afonso Henriques”, e bem assim interessantes documentos para a história vimaranense, como os forais de D. Henrique e D. Afonso Henriques a Guimarães, o testamento de Mumadona, a bula Manifestis Probatum e o testamento de Afonso Henriques, entre outros.
Uma cronologia relacionada com a fundação da nacionalidade e o primeiro rei de Portugal (868-2011) enriquece a obra, que culmina com uma extensa bibliografia (12 páginas) sobre D. Afonso Henriques e o seu tempo.
Enfim, trata-se de um trabalho de enorme fôlego, que exigiu imensa paixão, enorme espírito de sacrifício e grande competência científica e literária. Pelo índice se pode aquilatar do elevadíssimo interesse da obra, que fica, a partir de agora, como um monumento e uma referência no âmbito dos estudos sobre a questão do nascimento e da vida do fundador do reino de Portugal.
As maiores felicitações ao amigo Barroso da Fonte pelo seu esplêndido trabalho!...
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