Há 30 anos que nos casámos, amor, Dezembro despedia-se do ano de 1981, por entre um temporal de má memória, que inviabilizou uma “lua-de-mel” por minúscula que fosse. E não foi… Fafe acabou por ser o destino paradisíaco das nossas esperanças e frustrações daqueles dias iniciais, tão belos e estimulantes!...
Tempo de crise, aquele, como hoje, de escassez, de perspectivas pouco risonhas. Crise de crescimento, seguramente, ao contrário dos nossos dias de chumbo sem remissão. Estávamos ainda na ressaca da gloriosa revolução do 25 de Abril, alfobre de utopias e de sonhos. Que se concretizaram, a grande maioria, para bem do país e de todos nós, por muito que a muitos custe aceitar.
Éramos muito jovens, há três décadas, em que os nossos destinos se cruzaram, para os dias vindouros, como dois corações unidos pela paixão que vem dos começos do mundo, e assim prossegue até ao ómega final.
Era aquele um tempo carente, em que, como todos os jovens da nossa geração, alugávamos um apartamento nos arredores da (então) Vila, para juntarmos os ansiosos trapinhos. Tempo de ir montando o essencial da casa, das mobílias aos electrodomésticos, do quarto à cozinha, naturalmente comprados em suaves prestações, que não deixavam de ser escrupulosamente cumpridas. O resto, viria com o tempo…
Tempo em que não tínhamos automóvel, nem computador, nem telemóvel, bens que hoje diríamos absolutamente identitários para qualquer português que se preze. Apenas velhas máquinas de escrever e arqueológicos gira-discos, em que colocávamos uns LP de vinil, de Demis Roussos, Rolling Stones, Beatles e outros abencerragens que, trinta anos depois, poucos sabem quem são, ou que músicas cantavam.
Só mais tarde, muito mais tarde, a eles acedemos!...
Três décadas são escasso tempo na vida do universo mas muitos anos na vida dos efémeros humanos.
Muitas primaveras floriram, muitos outonos amareleceram, respeitando o devir repetitivo da Natureza.
Neste percurso vital, orgulhamo-nos dos nossos triunfos, das nossas obras de arte, absolutamente singulares, irrepetíveis, luminosas: os nossos filhos queridos, Mónica e João, que são a nossa comum vaidade, e o nosso desvanecimento. O nosso futuro, sem dúvida!
Foi assim há 30 anos, em 27 de Dezembro de 1981 |
Orgulhamo-nos também da nossa formação académica, adquirida já, em ambos os casos, na nossa vida a dois, enquanto trabalhadores-estudantes; como nos envaidecemos do nosso trabalho, que nos honra, cumula e preenche. Dos meus livros, que me ensoberbecem, naturalmente, mas que se devem também ao teu apoio expresso ou tácito, naquela atitude, tantas vezes, de “viúva de um vivo”, de um “ausente presente”, que só quem conhece esta realidade é capaz de valorizar. O meu reconhecimento é total, amor, pela mulher inacreditável e bela que sempre foste e tens sido!
Orgulhamo-nos dos muitos amigos que fomos tecendo, dos familiares que nos estruturam, do que de positivo fomos construindo ao longo de 30 anos.
Lamentamos profundamente as perdas irreparáveis que fomos registando no diário da nossa vida. Sobretudo, as daqueles que muito amávamos e respeitávamos, que eram (e continuam a ser) parte integrante das nossas existências. A minha avó Emília; a tua mãe Arminda; a minha tia Maria; o teu irmão José Carlos; o meu pai Júlio; a minha mãe Zélia, para a qual rezámos hoje a missa do sétimo dia, perante uma plêiade de amigos que me cumpre enaltecer.
Hoje estamos mais belos, mais maduros |
Fomos ficando cada vez mais vazios, mais desertos, mais pobres, com o desaparecimento dos nossos ente-queridos, que para nós são sempre eternos, imortais, imperecíveis, enquanto tivermos coração e memória!
30 anos são 360 meses. Neste intervalo, somam-se muitas mortes e muitas vidas; muitos êxitos e outros fracassos; muita sementeira e muita colheita; gente que partiu e gente que regressou; vidas que foram e vidas que nasceram. Maios que se repetiram e Dezembros que teimaram em desfazer-se.
É a vida. Foi a vida. A vida será.
Com altos, com baixos; com rosas e com cravos, como é próprio da existência concreta.
Há 30 anos, não éramos nada do que somos hoje. Hoje não somos nada do que éramos há 30 anos.
O casamento é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. É uma prova dura e auspiciosa de resistência, de obstáculos diariamente superados. Com muito afecto, muito espírito de sacrifício, imensa disponibilidade e capacidade de tolerância, que são qualidades raras nos dias que correm.
A foto mais recente do par que somos |
30 anos depois, resta o nosso amor, a nossa paixão, um quotidiano vivido intensamente a dois como se não tivesse havido ontem e como se só o amanhã fosse uma realidade incontornável!
Da minha parte, te confesso a paixão da minha vida. Que sei ser correspondida; disso não tenho dúvidas.
Amamo-nos hoje, como no dia inicial, inteiro e limpo de há 30 anos! Ou talvez mais maduramente. Logo, profundamente!...
4 comentários:
Muitos parabéns a ambos...
... certamente com altos e baixos, não deixa de ser uma data respeitável...
... mais anos virão e cabe aos dois torna-los igualmente bons!
Muitas felicidades,
Um abraço.
Muito obrigado ao Faustino Monteiro, pelo seu comentário.
Temos consciência de que, nos dias que correm, 30 anos de casamento é um feito a roçar o heroísmo.
Tentaremos, humildemente, prolongar o nosso estado de felicidade até ao final das nossas vidas!
Um abraço de gratidão.
Parabéns. Que o tempo e Deus continuem a cimentar a vossa linda história de amor.
Carlos Afonso
Gostei imenso do texto.
Mas,acima de tudo,a mensagem de amor.
Muitos Parabéns!!
Beijinho
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