domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal em Dor Maior!

Porque é que me abandonaste, mãe, assim de repente, sem um sinal, um aceno, uma emoção, uma última palavra de despedida?
Como posso perdoar-te uma partida assim, súbita, radical, definitiva, absurdamente pungente, deixando-me inusitadamente mais pobre, mais vazio, como uma primavera sem andorinhas?
Porque é que me deixaste com uma dor tão funda no coração, uma noite escura de breu a toldar-me a alma, que não sei mesmo como ultrapassar?
Porque não me avisaste, mãe, que estavas cansada deste mundo, que te era insuportável a solidão, que desististe da vida desde que a tua paixão, o meu pai, partiu para as estrelas, há dois anos?
Porque é que tinhas de te juntar ao pai para passarem o Natal no reino da luz, exactamente nestes dias, sem a presença dos que tanto amavas, os teus filhos, netos, nora e genro?
Que vai ser de mim, minha mãe, que eras o meu farol, a minha referência incontornável dos bons e dos maus momentos, mesmo quando não concordava contigo, mesmo quando achavas que eu não tinha razão?
Que vai ser do meu futuro sem a tua alegria, os teus telefonemas a perguntar como vão as coisas, as tuas vindas à feira semanal, primeiro da vila e depois da cidade, mais para espairecer do que por necessidade?!...
Como vou conseguir suportar a tua intransponível ausência quando for a Serafão, revisitar as raízes da infância, que é o único verdadeiro lugar da felicidade? A casa estará vazia de ti, do teu olhar verde de imensidão, das tuas palavras quentes e boas, do teu bolo de milho, dos teus cozinhados, com o sabor singular que sabias emprestar-lhe. Da tua bondade, das tuas zangas amistosas com o Tico, o fiel companheiro das tuas jornadas, que ontem estava anormalmente triste, cabisbaixo, adivinhando o triste desenlace.
É frase feita considerar que os nossos pais são imortais, eternos, imperecíveis, que para nós jamais envelhecem, perpetuando uma juventude de santidade, seja qualquer for a sua idade ou saúde.
Perdê-los é descer à dor maior, mais lancinante, cruciante, atroz.
Mas as generalidades são supérfluas. O que dói, e fundamente, são as especificidades.
Dói-me a mãe que me acompanhou ao longo dos 55 anos que levo de vida e da qual nunca me separei, afectivamente.
Levou-me ao baptismo, à comunhão, à escola, à universidade, ao casamento, ao baptismo dos meus filhos. Esteve sempre presente nos momentos estruturantes da minha formação. Educou-me, com disciplina, respeito e sentido da responsabilidade, enquanto o meu pai mourejava por terras de França. Conduziu a minha infância e juventude, com muito amor e com a aplicação dos necessários correctivos, quando as minhas traquinices descambavam para a asneira, ou para as brincadeiras de mau gosto. Nunca lhe levei a mal as tareias que me dava quando as merecia, pois fizeram parte do meu crescimento.
Nos verdes anos, ajudava-a a amanhar as terras, levantava-me no Verão, sob sua rigorosa insistência, às cinco horas da manhã para regar os campos, ajudava a malhar o centeio, a plantar as batatas, a podar, a sulfatar e a vindimar. No tempo em que fabricar a terra era fundamental para a subsistência das famílias.
Fazíamos parte integrante do ciclo agrário, sobretudo ela e eu. Agradeço-lhe ter-me feito um homem de trabalho, disciplinado, que em cada tarefa que faz dá o melhor que pode e sabe, como penso já ter demonstrado à saciedade.
Mãe, porque me fizeste esta desfeita de nunca mais te ver, a não ser pelos olhos ternos do coração e da memória?!...
Já não tenho lágrimas para expressar a dor que me rebenta as entranhas à procura do teu rosto, da tua voz, da tua identidade de tanto amar a família!...
Que bom foi ser teu filho, mãe. Ter tido o privilégio de te ter amado durante os anos em que aqui andaste a meu lado!...
Que saudades me roem já o coração, meu Deus, dois dias apenas de me teres deixado!...
Como vou conseguir superar a tua perda irreparável, mãe? Como?
Como tiveste a coragem de me deixar sem ti, nestas condições, nestes dias, minha mãe eternamente adorada?
Até sempre, mãe! Dá um grande beijo por mim ao pai, a quem seguramente já encontraste, pois o amor vos unia profundamente e a crença na vida para além da vida!
Que sejam felizes, novamente!

PS – A minha amada mãe, Zélia Vieira Ferreira, faleceu subitamente na noite de 23 de Dezembro, aos 76 anos, indo ontem a sepultar no cemitério paroquial de Serafão, perante uma imensidão de amigos.
A todos quero agradecer a presença, que mitiga de alguma forma a imensa dor que atormenta a família mais próxima.
A missa do 7º dia é na próxima quinta-feira, pelas 19h00, na Igreja de Serafão.

7 comentários:

Hernâni Von Doellinger disse...

Abraço.
h.

José Rui disse...

Caro dr. Coimbra, triste notícia esta. Se de algum modo a nossa solidariedade e o nosso abraço, mesmo que não comportando de todo o sentimento que o povoa, for aconchego e um laivo mais de coragem e força, tome-o. Rui e Celina.

Anónimo disse...

Dr. Coimbra,

Não sei muito o que dizer nestes momentos, mas deixo um grande abraço.
Pedro Sousa

Luis Gonzaga Leite disse...

Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, presto os meus sentidos pesames ao Dr. Artur Coimbra e familia.
Um abraço de solidariedade neste momento de dor.
Luis Gonzaga Pereira Leite

ARTUR COIMBRA disse...

Aos muito amigos que, por diversos meios, por sms e através deste blogue, me têm manifestado a sua solidariedade e a maior amizade neste momento de indescritível perda, só lhes posso retribuir em gratidão e reconhecimento.
Aproveito para agradecer também à Dra. Lu Vilaça, a mensagem, e ao meu grande amigo Moncho Rodriguez,estas palavras recheadas de coração por dentro:

Meu querido amigo
Sei que nenhuma palavra pode traduzir os sentimentos e amenizar a dor, a perda.
A vida, companheiro, tem seu traçado misterioso e inexplicável. Todos nós vamos ter
que passar por essa dor. Que nossos entes queridos possam ter seu descanso e paz.
Receba os meus maiores sentimentos, e, daqui de onde estou, farei minhas preces.
Sabe que pode contar com a minha amizade em tudo que lhe seja preciso.
Com o mais sentido pesar,
Moncho

Filomena Magalhães disse...

Dr. Coimbra, queira aceitar os meus sentidos pesames neste momento de dor pela perda da sua querida mãe.

So hoje tomei conhecimento através do semanario Povo de Fafe.

Filomena Magalhães

ARTUR COIMBRA disse...

Continuo a agradecer profundamente as muitas mensagens de amizade e solidariedade que me têm sido enviadas e prodigalizadas pessoalmente por muitos amigos e conhecidos.
Deixo também uma tocante mensagem do meu amigo e conterrâneao Dr. Barroso da Fonte, que é do seguinte teor:
"Caríssimo Amigo e Ilustre Conterrâneo Dr. Artur Coimbra: só agora, pela leitura da sua crónica em O Povo de Fafe soube que faleceu, subitamente,sua MÃE. Não sabia e só por isso não pude ir ao funeral para lhe apresentar, ao vivo um abraço de solidariedade. Faço-o tarde e por esta via. A Si e a todos os seus. No meio do infortúnio terá sido um sinal de
alívio a adivinhar pelo facto de falecer subitamente. Um sincero abraço de solidariedade e de sentimento profundo, pois sei, por experiência própria,quanto representa a morte da Nossa Mãe, como do nosso PAI. E já agora
aproveito para desejar um ANO com saúde e sorte. Barroso da Fonte".