terça-feira, 27 de novembro de 2012

“Sucesso” do governo à custa da miséria do povo!


1. A bem-amada Merkel já tinha afiançado, quando há dias se deslocou a Portugal para a cerimónia de beija-mão do seu capataz Passos Coelho, que estava tudo a correr como o previsto (por si, obviamente). Que o malfadado “ajustamento” está no bom caminho. Que a austeridade está a dar os seus “frutos”, como convém ao capitalismo internacional, que vinga e engorda sobre os destroços dos povos subjugados.
Há exactamente uma semana, veio o governo, através do insuportável ministro das Finanças, vangloriar-se que a sexta avaliação da tróica foi concluída com «sucesso». Blasonou-se Gaspar, que cada vez que aparece na televisão deveria haver um dispositivo que lhe repusesse a competência, que “esta capacidade de realização distingue o programa de ajustamento português”. É preciso ter lata!...
Como sublinhou de imediato, com toda a pertinência, a jornalista Constança Cunha e Sá, não se consegue entender onde é possível o governo encontrar a palavra “sucesso”. “Isto porque nós olhamos à volta e só vemos um pântano de insucesso e de fracassos», referiu a comentadora.
Na verdade, concluímos que o que é extraordinário para o governo é péssimo para os portugueses. Onde Gaspar fala de “êxito”, os portugueses apenas conseguem lobrigar empobrecimento, descalabro social e miséria.
O povo está cada vez mais deprimido, desolado, despossuído, sem poder de compra. Infeliz, no corpo e na alma. Os níveis de desemprego atingem valores intoleráveis (onde está hoje o Paulo Portas de há dois anos, altura em que ainda se indignava?), da ordem de mais de um milhão de pessoas, como nunca se viu; todos os dias são às dezenas as empresas a entrar em falência; os ordenados são cada vez menores e os impostos cada vez mais gigantes; o nível de vida regrediu a patamares de há duas décadas, e vai continuar; a pobreza campeia, como há mais de quarenta anos não se via; as organizações de apoio social não têm mãos a medir, pois são cada vez mais os que procuram alimento, conforto e socorro. Os pais abandonam recém-nascidos, como se fossem animais sem estimação; os velhos são retirados dos lares, porque as famílias necessitam desse dinheiro para sobreviver; os jovens universitários regressam a casa, por falta de meios de sustentação. Os portugueses são chamados a pagar, criminosamente, um tributo demasiado elevado para as “faltas” que cometeram. Estas foram as de confiar e depositar o seu voto em quem o desbaratou para outros fins. Quem nas últimas décadas teve os comandos da governação é que deveria sentar o traseiro no banco dos réus, para penar os seus erros e desvarios, e não estar regaladamente nos altos lugares do Estado ou das empresas, públicas e privadas.
Por tudo isto é que Portugal é hoje um país escandalosamente mais próximo do terceiro mundo do que do mundo desenvolvido, como já foi!
Perante este vergonhoso quadro de miséria, ainda há um governo que se vem gabar do “sucesso” da sua actuação, que mais não tem feito do que desmantelar o património de que Portugal ainda dispunha, vendendo ao desbarato empresas estratégias e emblemáticas que eram a marca e a identidade de todo um povo, empobrecendo drasticamente os portugueses, não para recuperar a economia mas como estratégia política para domesticar os trabalhadores, embaratecer e precarizar o factor trabalho e enriquecer ainda mais o sistema financeiro.
Esta agenda política de direita não tem só a ver com o “ajustamento” financeiro e o combate ao défice estrutural. Vai muito além. E esta gente que nos governa quer é acabar com o país tal como o conhecemos e os direitos, liberdades e garantias que o povo e os trabalhadores conquistaram após o 25 de Abril de 1974. É, claramente, a desforra perante o Portugal de Abril. O dito ajustamento não passa de um pretexto!...
A democracia, tal como a vivenciámos nestes anos, está em perigo, não tenhamos dúvidas! A não ser que a queiramos reduzir a um mero acto formal de votar periodicamente (cada vez menos) e de podermos dizer mal (cada vez mais) do governo. A democracia não é só isso. Não pode ser só isso. E é criminoso que a queiram reduzir a isso!
2. O governo não foi mandatado pelos que o elegeram há um ano e meio para demolir o Estado, como está arquitectado e consagrado na Constituição da República Portuguesa. Em nenhum programa eleitoral do PSD ou do CDS se prometia a desagregação do Estado, a profunda alteração das suas funções, a mudança do seu modelo, a implementação de uma alegada “reforma” que não tem como objectivo servir melhor os portugueses e conferir eficácia e eficiência aos serviços públicos, mas apenas e tão só poupar 4 mil milhões de euros, entre 2013 e 2014, porque Gaspar e companhia, pela sua incompetência comprovada e reiterada, não conseguem acertar nas contas do Estado.
Aliás, ainda no final da semana se comprovou a “competência” do governo, em matéria de execução orçamental. Apesar de ter saqueado os subsídios de férias e de Natal a grande parte dos funcionários públicos e dos pensionistas, mais uma vez a folha de excell de Gaspar não consegue acertar na matemática que qualquer merceeiro sabe de cor e salteado: se não há actividade económica, se o consumo interno se retrai, se ninguém consegue exportar ao menos os membros do governo, o resultado é a previsível queda das receitas fiscais que não dependem do esbulho decretado pelo executivo…
Um governo com esta missão avassaladora deveria ser demitido, com a máxima urgência, porque não foi sufragado para destruir o país, como está e promete continuar a fazê-lo, a mando de instituições internacionais!
Exige-se que o presidente da República, por uma vez, fale e não seja apenas para nada dizer, como de costume. O momento é grave e insustentável. Por este caminho, o país está a ser inapelavelmente empurrado para o abismo!...
3. Dá vontade de rir a algazarra dos deputados da maioria e o aproveitamento político que estão a tentar fazer, a propósito da diminuição da sobretaxa do IRS de 4 para 3,5%. Mas que importância tem “diminuir” 20 ou 30 euros anuais para um inacreditável aumento de impostos da ordem dos 30%, ou seja, de centenas ou milhares de euros, exactamente o que o nosso conterrâneo Luís Marques Mendes considera um “assalto à mão armada”?
Tenham a bondade de considerar que os portugueses não são tão estúpidos como suas excelências imaginam.




 
 

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