1. A bem-amada Merkel já tinha afiançado, quando há
dias se deslocou a Portugal para a cerimónia de beija-mão do seu capataz Passos
Coelho, que estava tudo a correr como o previsto (por si, obviamente). Que o
malfadado “ajustamento” está no bom caminho. Que a austeridade está a dar os
seus “frutos”, como convém ao capitalismo internacional, que vinga e engorda
sobre os destroços dos povos subjugados.
Há
exactamente uma semana, veio o governo, através do insuportável ministro das
Finanças, vangloriar-se que a sexta avaliação da tróica foi concluída com
«sucesso». Blasonou-se Gaspar, que cada vez que aparece na televisão deveria
haver um dispositivo que lhe repusesse a competência, que “esta capacidade de
realização distingue o programa de ajustamento português”. É preciso ter
lata!...
Como
sublinhou de imediato, com toda a pertinência, a jornalista Constança Cunha e
Sá, não se consegue entender onde é possível o governo encontrar a palavra
“sucesso”. “Isto porque nós olhamos à volta e só vemos um pântano de insucesso
e de fracassos», referiu a comentadora.
Na verdade,
concluímos que o que é extraordinário para o governo é péssimo para os
portugueses. Onde Gaspar fala de “êxito”, os portugueses apenas conseguem
lobrigar empobrecimento, descalabro social e miséria.
O povo está
cada vez mais deprimido, desolado, despossuído, sem poder de compra. Infeliz,
no corpo e na alma. Os níveis de desemprego atingem valores intoleráveis (onde
está hoje o Paulo Portas de há dois anos, altura em que ainda se indignava?),
da ordem de mais de um milhão de pessoas, como nunca se viu; todos os dias são
às dezenas as empresas a entrar em falência; os ordenados são cada vez menores
e os impostos cada vez mais gigantes; o nível de vida regrediu a patamares de
há duas décadas, e vai continuar; a pobreza campeia, como há mais de quarenta
anos não se via; as organizações de apoio social não têm mãos a medir, pois são
cada vez mais os que procuram alimento, conforto e socorro. Os pais abandonam
recém-nascidos, como se fossem animais sem estimação; os velhos são retirados
dos lares, porque as famílias necessitam desse dinheiro para sobreviver; os
jovens universitários regressam a casa, por falta de meios de sustentação. Os
portugueses são chamados a pagar, criminosamente, um tributo demasiado elevado
para as “faltas” que cometeram. Estas foram as de confiar e depositar o seu
voto em quem o desbaratou para outros fins. Quem nas últimas décadas teve os
comandos da governação é que deveria sentar o traseiro no banco dos réus, para
penar os seus erros e desvarios, e não estar regaladamente nos altos lugares do
Estado ou das empresas, públicas e privadas.
Por tudo
isto é que Portugal é hoje um país escandalosamente mais próximo do terceiro
mundo do que do mundo desenvolvido, como já foi!
Perante este
vergonhoso quadro de miséria, ainda há um governo que se vem gabar do “sucesso”
da sua actuação, que mais não tem feito do que desmantelar o património de que
Portugal ainda dispunha, vendendo ao desbarato empresas estratégias e
emblemáticas que eram a marca e a identidade de todo um povo, empobrecendo
drasticamente os portugueses, não para recuperar a economia mas como estratégia
política para domesticar os trabalhadores, embaratecer e precarizar o factor
trabalho e enriquecer ainda mais o sistema financeiro.
Esta agenda
política de direita não tem só a ver com o “ajustamento” financeiro e o combate
ao défice estrutural. Vai muito além. E esta gente que nos governa quer é
acabar com o país tal como o conhecemos e os direitos, liberdades e garantias
que o povo e os trabalhadores conquistaram após o 25 de Abril de 1974. É,
claramente, a desforra perante o Portugal de Abril. O dito ajustamento não
passa de um pretexto!...
A democracia,
tal como a vivenciámos nestes anos, está em perigo, não tenhamos dúvidas! A não
ser que a queiramos reduzir a um mero acto formal de votar periodicamente (cada
vez menos) e de podermos dizer mal (cada vez mais) do governo. A democracia não
é só isso. Não pode ser só isso. E é criminoso que a queiram reduzir a isso!
2. O governo não foi mandatado pelos que o elegeram há
um ano e meio para demolir o Estado, como está arquitectado e consagrado na
Constituição da República Portuguesa. Em nenhum programa eleitoral do PSD ou do
CDS se prometia a desagregação do Estado, a profunda alteração das suas
funções, a mudança do seu modelo, a implementação de uma alegada “reforma” que
não tem como objectivo servir melhor os portugueses e conferir eficácia e
eficiência aos serviços públicos, mas apenas e tão só poupar 4 mil milhões de
euros, entre 2013 e 2014, porque Gaspar e companhia, pela sua incompetência
comprovada e reiterada, não conseguem acertar nas contas do Estado.
Aliás, ainda
no final da semana se comprovou a “competência” do governo, em matéria de
execução orçamental. Apesar de ter saqueado os subsídios de férias e de Natal a
grande parte dos funcionários públicos e dos pensionistas, mais uma vez a folha
de excell de Gaspar não consegue
acertar na matemática que qualquer merceeiro sabe de cor e salteado: se não há
actividade económica, se o consumo interno se retrai, se ninguém consegue
exportar ao menos os membros do governo, o resultado é a previsível queda das
receitas fiscais que não dependem do esbulho decretado pelo executivo…
Um governo
com esta missão avassaladora deveria ser demitido, com a máxima urgência,
porque não foi sufragado para destruir o país, como está e promete continuar a
fazê-lo, a mando de instituições internacionais!
Exige-se que
o presidente da República, por uma vez, fale e não seja apenas para nada dizer,
como de costume. O momento é grave e insustentável. Por este caminho, o país está
a ser inapelavelmente empurrado para o abismo!...
3. Dá vontade de rir a algazarra dos deputados da
maioria e o aproveitamento político que estão a tentar fazer, a propósito da
diminuição da sobretaxa do IRS de 4 para 3,5%. Mas que importância tem
“diminuir” 20 ou 30 euros anuais para um inacreditável aumento de impostos da
ordem dos 30%, ou seja, de centenas ou milhares de euros, exactamente o que o
nosso conterrâneo Luís Marques Mendes considera um “assalto à mão armada”?
Tenham a
bondade de considerar que os portugueses não são tão estúpidos como suas
excelências imaginam.
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