A poesia fafense está de luto. Faleceu hoje o
grande poeta Augusto Fera, aos 72 anos de idade. Tive o privilégio de, há
exactamente um ano, organizar, prefaciar e anotar o seu primeiro e único livro,
“Cruz de Chumbo e outros poemas”, editado em boa hora pela Junta de Freguesia
de Fafe e pelo amigo José Mário Silva. Gravei também um CD com os seus poemas.
Estou francamente desolado.
Nada fazia prever o triste desenlace. Era um homem
ainda relativamente novo (velhos são os trapos). Admirei-o desde sempre,
coleccionei a sua poesia, de enorme qualidade literária e estética. Apesar de
invisual, via o melhor que a poesia tem, em sensibilidade, em criatividade, em
imaginação.
Sendo autodidacta, era um nome maior da poesia
fafense, sem qualquer dúvida.
| Por ocasião do lançamento do seu livro, em Novembro de 2011 |
Augusto Fera era o pseudónimo literário de Augusto Ferreira,
natural de Armil (29 de Dezembro de 1939). Devido a um acidente com uma
ratoeira de fogo, armada num campo do padrinho e onde ia buscar uma bola, cegou
com apenas 6 anos de idade. No entanto, desde os 18 anos, abraçou a arte de
versejar, e que disseminou por revistas e jornais, cultivando sobretudo o
género poético da quadra. Obteve inúmeras distinções ao longo da sua carreira
poética, em concursos e jogos florais. Exerceu durante largos anos o lugar de
telefonista na Companhia de Fiação e Tecidos, do qual se aposentou há mais de
uma década.
Participou nas colectâneas Poetas de Fafe
(1985) e Homenagem a Soledade Summavielle (1988).
| Com o filho Filipe |
| Com a adorada esposa |
Augusto Fera escreveu imensos poemas, mas um dos que ficou mais conhecido foi
INCONFORMISMO
Que hora herdou a coroa de oiro fino
Da dinastia de horas enlutadas?
A quem deu o retrós das madrugadas
As contas do colar diamantino?
Onde soltam as mãos do sol
bambino
As borboletas de asas
pintalgadas?Que tálamo de musas ou de fadas
Debruará o arco-íris peregrino?
Que é da nau deste chilre que
me chega?
Que é das rendas das filhas
de Nereu?Onde coram as faces matinais?
Se foi para brinca à
cabra-cega
Que Tu, meu Deus, vendaste os
olhos meus,Desvenda-os, que eu não quero brincar mais.
(Fotos: Jesus Martinho)
1 comentário:
Sr. Dr. Artur Coimbra,
Também só hoje, através de uma partilha do BlogMontelongo Fafe, tomei conhecimento deste seu texto.
Muito Obrigado.
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