terça-feira, 25 de janeiro de 2011

OS CAIXÕES DA POUCA-VERGONHA


Educação: 93 caixões em cortejo fúnebre
Sítio da TVI na Internet
Alunos, pais e professores de 93 escolas com contrato de associação com o Ministério da Educação manifestaram-se esta terça-feira em Lisboa de uma forma absolutamente demagógica, excessiva e indigna. De um tremendo e tétrico mau gosto. Chocante, por utilizar crianças num protesto sem sentido e sem razão. Com caixões, onde, em vez de prepararem o pretenso 'funeral' do ensino particular e cooperativo, deveriam enterrar a pouca vergonha com que o ensino privado quer continuar a desfrutar dos dinheiros públicos, como o faz desde há três décadas, quando a realidade não tinha a mínima comparação com a situação actual.
O que está em causa, claramente, é saber se o Estado deve ou não financiar, total ou parcialmente, o ensino privado. Entendemos que o deve fazer apenas quando ele se torna supletivo do ensino público, ou seja, em casos isolados em que a escola privada é a única escolha. A obrigação do Estado é apostar, desde o princípio e fortemente, na defesa do ensino público de qualidade.
O próprio texto constitucional consagra que o ensino deve contribuir para a superação de desigualdades económicas, sociais e culturais e que, na realização da política de ensino, incumbe ao Estado “assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito”, “criar um sistema público de educação pré-escolar”, “garantir aos cidadãos, segundo as suas capacidades, o acesso aos graus mais elevados do ensino, da investigação científica e da criação artística” e, enfim, “estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”, entre outros preceitos. Mas, no fundamental, a Constituição estabelece inequivocamente que “o Estado criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as necessidades de toda a população” (artigo 75º). É o que está em causa.
O Estado, adentro dos seus parcos recursos, que são os de todos os contribuintes, tem a estrita obrigação de construir e manter estabelecimentos de ensino públicos, desde o pré-primário ao secundário, dotados das melhores condições possíveis para o ensino e aprendizagem.
Desde há 30 anos, porém, que o Estado tem celebrado contratos de associação, que visam a atribuição de um subsídio às escolas privadas que completem as insuficiências da rede pública de escolas. Com efeito, como bem sublinha o Governo, a evolução da rede de escolas públicas nos últimos três decénios e a melhoria das condições e da qualidade de ensino na escola pública impõem a revisão das condições destes contratos, que é o que está em equação nesta altura, em que a escola pública responde às necessidades. Não há concelho que não tenha, no mínimo, os seus centros escolares que respondem às necessidades dos alunos e das famílias, desde o ensino pré-primário à escolaridade obrigatória, para mais num sistema de “escola a tempo inteiro”, com actividades de enriquecimento curricular, impensáveis há alguns anos. Não há cidade ou vila que não disponha da sua escola secundária, que muitas vezes não é mais bem apetrechada, em virtude de as verbas serem também desviadas para outras redes de ensino…
Por outro lado, num momento de enorme esforço nacional de consolidação e equilíbrio das contas públicas, impõe-se um importante exercício de racionalização da gestão dos recursos financeiros públicos, solicitado a todos os portugueses, e que fundamenta a reavaliação de subsídios e contratos que assentavam em pressupostos de há décadas atrás.
As escolas privadas queixam-se mas, mesmo com os cortes instituídos pela portaria 1324-A/2010, o apoio financeiro a conceder, no âmbito de contratos de associação, resulta na atribuição de um subsídio anual por turma fixado em € 80 080. É pouco? Mas o caso é tão simples como isto: havendo uma rede de ensino público que garante a escolaridade, desde o básico ao secundário, pelo menos, quem quer o ensino privado, com as suas mordomias, as suas piscinas, os seus pavilhões, o seu golfe, o seu ballet, a sua equitação, paga-o do seu bolso. Não é justo, nem consequente, que seja o Estado a financiar um ensino de cariz religioso, ou de outra espécie, quando garante alternativa. Se os colégios e escolas particulares, que também têm direito à vida, querem continuar a sua actividade, têm de arranjar outras fontes de financiamento, que passam pelo acréscimo da contribuição dos próprios alunos. Agora, o que não é admissível é que os estabelecimentos de ensino privado se gabem do seu estatuto de excelência quando estão a ser financiados, em grande parte, pelos dinheiros públicos. Esses recursos devem ser canalizados para a escola pública, como preceitua a Constituição e admite o mais elementar bom senso!
A “liberdade de escolha da escola”, tão benquista aos defensores do privado, mas devidamente financiada pelos dinheiros públicos, é claro que não passa de uma grosseira mistificação. Se a recente alteração da legislação põe em causa a sobrevivência das escolas particulares, isso não é problema do Estado, quer dizer, de todos nós. Se não têm condições, fecham as portas, como acontece às empresas e ao comércio.
Quando não há dinheiro para manter a qualidade da escola pública, que cobre todo o país, é impensável manter os níveis de financiamento do ensino privado, que não responde a essa lógica, mas a propósitos lucrativos, catequísticos ou outros.

3 comentários:

Anónimo disse...

Com todo o respeito que tenho pelo ensino privado, não posso deixar de manifestar o meu repudio pela forma que os responsáveis do mesmo utilizaram para mostrar o seu descontentamento em relação às medidas do governo.Na minha opinião, não se devem utilizar as fotos das crianças misturadas com caixões, para este tipo de reivindicação.Foi pura e simplesmente lamentável. Assim, não vamos a lado nenhum......

Unknown disse...

Boa noite Dr. Coimbra,
uma manifestação com base em direitos infundados e que aconteceu da pior maneira.
Uma vergonha, sem dúvida!

Beijinho,
Ana Martins

Anónimo disse...

Concordo inteiramente consigo,quem quer mordomias,paga-as.Não podemos admitir que escolas públicas,não tenham o minimo de conforto, especialmente no norte do país onde os aquecimentos não são luxo,para não falar em outras necessidades básicas,por exemplo,não é demais exigir que não chova dentro das salas de aula, para depois se investir em luxos nas privadas.Deviam aplicar os nossos dineiros com critérios mais justos.Quem tem condições económicas para por os filhos nas privadas,põe,quem não tem vai para a pública, onde se forma muito boa gente,sem o conluio dos amigos.