Mais que à rasca, o povo português, e não apenas os jovens precários e sem saída, é hoje em dia um povo massacrado por sucessivas penalizações exorbitantes e contínuas, vulgo, PEC. Escasseiam as palavras para transmitir a indignação, a revolta e a frustração que reinam por esse país fora, nas pessoas e nas famílias. Por isso, não surpreendem as grandiosas manifestações de rua que no sábado encheram praças e avenidas em diversas cidades, juntando muitos milhares de cidadãos de diversas idades, estratos e condições. Talvez dê para estranhar é a serenidade e o civismo que tantos portugueses desesperados ainda conseguem manter, perante o adversa situação. Em outros países, circunstâncias menores têm provocado revoluções e mudanças de poder.
Portugal está a transformar-se numa tragédia grega, sem fim à vista. Esse é que é o drama: a falta de uma luz ao fundo do túnel, apesar de todos os sacrifícios que nos estão a ser impostos.
Bem pregou o Presidente da República, Cavaco Silva, na tomada de posse, numa violenta diatribe contra o governo: que “há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos”; que o Governo tem de ser realista, abandonando os previstos investimentos faraónicos; que é crucial a realização das tão urgentes como sempre adiadas “reformas estruturais” da economia e do Estado; que é urgente um “sobressalto cívico” que acorde a sociedade e sobretudo as novas gerações, para que despertem e não se resignem.
Numa atitude lamentável, do ponto de vista democrático, clandestina, pois não deu conhecimento nem ao Presidente da República, nem ao Parlamento, a casa-mãe da democracia, das gravosas medidas que ia tomar, José Sócrates avançou para Bruxelas com mais um PEC imposto pela degenerada Merkel, de quem o nosso primeiro parece um fiel serventuário, para não dizer outra coisa, m ais condizente com a realidade.
Na “sexta-feira negra”, 11 de Março, o governo foi ao Conselho Europeu levar o quarto pacote de austeridade que penaliza sobretudo os reformados e mais uma vez a classe média, com o reiterado objectivo de cumprir as metas acordadas com Bruxelas e ir agora buscar mais 7,8 mil milhões de euros até 2012.
O que deixa, desde logo, várias interrogações para o comum dos mortais:
- Se José Sócrates se anda a gabarolar desde Fevereiro das excelências da execução orçamental, que necessidade haveria de um novo pacote de austeridade? Ou será que a Europa descobriu, não um “buraco” mas uma “cratera”, nas nossas finanças públicas, como referiu a imprensa internacional?
- O que vale a palavra de José Sócrates, que passa a vida a vender a imagem de que está tudo bem, tudo cor-de-rosa e, afinal, os portugueses acabam por apanhar mais um banho de cortes e impostos? Zero absoluto!...
- Que Durão Barroso, Trichet ou a senhora Merkel, os donos da Europa e de Portugal, saúdem as novas medidas tomadas pelo governo de Sócrates, não é de admirar: não são eles que vão pagar a nossa crise. Aliás, foi a fugir dela que o senhor Barroso avançou para a Europa, para ganhar mais de 25 000 euros, já há uns bons anos atrás… Até eu saudava as medidas socráticas que espezinham e amarguram ainda mais o povo português se vivesse no remanso de Bruxelas!...
- Afinal, que autonomia tem o governo português e que legitimidade democrática tem quem decide as medidas que Portugal deve tomar? Conclui-se que não é o governo português que manda no país, porque se subjuga servilmente aos ditames da chamada “Europa”, para obter o crédito que nos faz falta… Vale, assim, a pena estarmos tão preocupados em apoiar o partido A ou o partido B quando sabemos que a palavra decisiva, nas matérias mais importantes, que têm a ver com os cortes orçamentais, com a idade da reforma, com tantas pequenas coisas do dia a dia, não são decididas em Lisboa mas em Bruxelas, em Bona ou em Paris?
- Quem votou nos senhores que mandam na Europa e decidem o que Sócrates tem de fazer, sob pena de fecharem a torneira?
- Não será chegada a hora de tornar esta Europa pretensamente confederada, numa União de Estados, como os Estados Unidos? Ao menos, não se mentia aos europeus, que julgam possuir uma soberania nacional que não passa de pura ilusão!...
Estas são questões que urge serem debatidas, sem tibiezas, nem mistificações.
No imediato, José Sócrates voltou a curvar-se perante as exigências “europeias”, penalizando cruelmente o seu povo. Afinal de contas, os famigerados “mercados” continuam a borrifar-se para os esforços do nosso governo, não cessando de elevar os juros pelos empréstimos que concedem a Portugal, na certeza de que só o FMI nos salvará.
Chegados a este ponto desesperado, francamente, já estou como o outro: que venha o FMI. José Sócrates tem passado os seus melhores dias a tentar conseguir aspirina para curar a gravíssima doença de que padecem as finanças portugueses e em cuja recuperação já ninguém acredita. Que se chame o médico, para operar o doente, por uma vez por todas! Que os portugueses sofram, de uma vez, mas em nome de uma cura que não há meio de se lobrigar. E que se veja algum futuro: nos sucessivos PEC só há estabilidade, sacrifícios, cortes, quebras, adiamentos, negativismo. Nada de crescimento, nada de esperança, nada de futuro. Chega!
Que venha quem tiver de vir, para dar alguma esperança ao nosso povo cada vez mais infeliz!
NB: Os portugueses continuam à espera que José Sócrates (que é ele quem está em causa, mais ninguém…) explique como é que foi possível chegar a esta situação crítica de um país na bancarrota e que papel ele teve nessa desgraça, em especial ao injectar milhões de euros num banco falido, como é o BPN. Não fora essa nacionalização estúpida, e não estaríamos no fundo do poço!...
José Sócrates deve uma explicação aos portugueses, sobre o que se passou até aqui e por que é que o PEC 4 se tornou necessário! …
Não é só pedir sacrifícios aos portugueses; é necessário também dar explicações. É o que tem faltado e a situação não pode continuar!
Como é que é possível aceitarmos que o primeiro-ministro que está a enterrar este país continue apenas a falar do “Magalhães” e a atacar os seus adversários políticos?!...
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