III JORNADAS LITERÁRIAS DE FAFE
Como referimos no post anterior, este domingo as III Jornadas Literárias de Fafe marcaram presença nas freguesias de Monte e de Travassós.
Mais uma vez, a alma do povo ascendeu aos seus píncaros; a memória das gentes deu o seu melhor para homenagear aqueles que mais se salientaram na respectiva freguesia.
1. Em Monte, na sede da Junta de Freguesia, foi homenageado o poeta Joaquim Vaz Monteiro, natural da freguesia (1868), filho de abastados lavradores, e que faleceu em 11 de Março de 1935, com 67 anos. Não tendo concluído o curso no seminário de Braga, veio a assentar praça no Exército, como voluntário, chegando a ser cabo telegrafista. Mais tarde, estabeleceu-se na sua aldeia natal, como comerciante e na qual exerceu diversos cargos, como Juiz da Paz e delegado do Registo Civil. Perfeito homem de bem, de carácter, considerado e estimado, impunha-se pela sua modéstia e simplicidade. Vaz Monteiro era um poeta!
Colaborou com poesia nos diversos periódicos então existentes em Fafe e em municípios limítrofes, sob vários pseudónimos, tendo reunido, em volume, posteriormente, toda essa produção, sob a denominação O Solteirão de Fafe. Vaz Monteiro amava o celibato e daí o título da sua única obra conhecida.
Nos últimos anos da sua vida colaborou dedicadamente em O Desforço e no Almanaque Ilustrado de Fafe, com textos em prosa e em verso.
O poeta das montanhas inspirava-se na natureza, na vida campestre, nas festas e romarias, na vida real que o rodeava.
Dele deixamos aqui um poema de louvor à sua terra, com o título “Fafe Alegre” e que foi escrito em Monte, no ano de 1928:
Fafe, povo valoroso
E modesto e d’alma sã
Encara a rir, bonançoso,
Este dia e o d’amanhã.
Dá gosto vê-lo andar
A regar o prado:
Ve-lo-emos a cantar
Ou assobiando um fado.
Guardando bois e carneiros
Cantam pastores ao sol,
Canta a água nos ribeiros,
Na devesa o rouxinol.
Nos serões moças sadias
Cantam em noites ‘streladas
Canta-se nas romarias,
Canta-se nas esfolhadas.
Terra de ermidas nos montes,
Muitas grimpas em redor,
Muitos riachos e fontes
Correm entre as urzes em flor.
Campos cheios de boninas,
Orlados de salgueirais.
Tem matagais nas colinas,
Nas coutadas pinheirais.
É Fafe ninho d’amores,
Com videiras penduradas
Com chalés de muitas cores
E casas apalaçadas.
Povo alegre e sorridente
Com ar que inspira franqueza,
Quase sempre está contente,
Poucas vezes tem tristeza.
2. Já em Travassós, na Casa do Povo, foi prestada homenagem a um brasileiro natural da terra, o benemérito António Joaquim Vieira Montenegro.
Montenegro impôs-se no campo da benemerência. Enriqueceu no Rio de Janeiro, como tantos outros fafenses. Naquela cidade brasileira, foi aberto o seu testamento onde, além de outras disposições particulares, legava ao Hospital de Fafe 2:000$000 reis fortes, à Câmara de Fafe 7:000$000, para mandar construir uma casa na freguesia de Travassós, para a escola do sexo masculino e 14:000$00 para a mesma Câmara mandar construir uma casa para asilo de meninas pobres de diferentes freguesias do concelho, sendo a autarquia obrigada a dar a casa pronta dois anos depois de receber o legado. Não sendo cumpridas estas disposições no prazo estabelecido, reverteriam os legados a favor do hospital de Fafe.
Pela sua doação, foi assim construída a Escola Primária Montenegro, em Travassós, bem como o Asilo de Montenegro, na rua que desde o século XIX leva o nome do benemérito, aqui em Fafe. O primeiro regulamento do Asilo de Montenegro, instituído para meninas pobres na Vila de Fafe, data de 28 de Maio de 1877, sendo admitidas, por ordem de prioridade, as meninas órfãs de pai e mãe, “sem pessoa que as ampare”, entre os 4 e os 11 anos, as expostas e as filhas de pais pobres que não podem ser alimentadas nem educadas por estes.
António Joaquim Vieira Montenegro havia falecido em Lisboa em Janeiro de 1874.
Aqui ficam as fotos, uma vez mais, belíssimas, como sempre, do nosso colaborador Manuel Meira Correia.
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