As III Jornadas Literárias, que culminaram na noite de sábado passado com um inolvidável espectáculo da Academia de Música José Atalaya, envolvendo cerca de três centenas de músicos e de coralistas, após uma tarde camiliana que juntou em Paços umas quantas centenas de fafenses, constituíram, sem sombra de dúvidas e sem receio de julgar em causa própria, um dos acontecimentos culturais maiores da história de Fafe.
Foram duas semanas intensas de actividades culturais que se desenrolaram na cidade, a que se acrescentam os eventos levados a cabo em praticamente todas as freguesias ao longo de um mês, envolvendo as autarquias e as colectividades e instituições locais, num recriar de paixões e de tradições a todos os títulos notável! O momento alto foi o
A cultura espalhou o seu perfume de encanto e magia por todo o concelho. E toda a população a viveu e recriou superiormente. Magistralmente!
O evento movimentou milhares de pessoas, num vasto conjunto de iniciativas, que resultam de uma parceria entre a Câmara Municipal de Fafe e todas as escolas e agrupamentos do concelho, além do movimento associativo e da grande maioria das juntas de freguesia, numa conjugação de esforços de tanta gente e de tantas escolas e instituições do concelho que só nos pode orgulhar. Estas Jornadas fizeram história, indubitavelmente. Pelo número e envolvimento de tanta gente e tantos parceiros, em tantos momentos fantásticos de criação e recriação colectiva.
O momento alto das Jornadas aconteceu na tarde de domingo, 18 de março, quando milhares de pessoas, incluindo 4 mil figurantes, apesar do tempo instável, encheram as ruas da cidade para assistirem ou participarem na recriação da vinda do Rei D. Carlos I a Fafe. Foi um momento vibrante de bairrismo, de esplendor da cultura, de paixão das freguesias pelos seus valores e potencialidades, através de esplêndidas mostras etnográficas. Juntas de freguesia, associações e populares deram vida, cor e conteúdo à memória do que Fafe tem de melhor!
Perante este panorama resta uma absoluta mágoa: a ausência de cobertura mediática das Jornadas, que não correspondeu minimamente à importância social e cultural que granjearam.
Custa a acreditar no estado lastimável da nossa comunicação social, hoje em dia. Um conjunto de eventos com a relevância referida e que os fafenses reconhecem, não mereceu uma única linha de diários como o JN, o DN ou o Público, e até dos regionais, com excepção do Diário do Minho, que cobriu a encenação da vinda do rei. De resto, zero. Televisões, nem vê-las. Até o Porto Canal, que até ao Júlio Magalhães cobria esta região e aparecia na cidade frequentemente, não põe cá os pés!...
É triste e frustrante ter de o admitir. Custa a engolir a pobreza e estreiteza do critério editorial do jornalismo actual, que privilegia o crime, a negatividade, o sangue, o sexo, as taras, o insólito. Uma cabra que entra no cemitério de Fareja, é notícia nos jornais e reportagem nas televisões. Um imbecil que se lembra de atacar a educadora de um jardim-de-infância de Lisboa, por uma brincadeira envolvendo o “pau ao gato” e o nome de um clube da capital, merece parangonas na imprensa e reportagem nas televisões, ouvindo o idiota, que não tem outro nome (aliás, quem lhe dá cobertura mediática também não merece outro designativo). Um acontecimento que congrega milhares de pessoas, como as Jornadas Literárias de Fafe, em torno da cultura, da educação e das tradições, da marca “Fafe dos Brasileiros”, não merece uma só linha. Não tenho pejo em considerar que esta ausência de notícias espelha claramente o estado mental deste país e que é ulceroso. A comunicação social nacional (é dessa que estamos a falar, porque a local vai fazendo o que pode…) nos nossos dias é absolutamente miserável, repugnante, tendo apenas como objectivo o aumento das audiências ou a venda do papel. Apenas lhe interessa o que “vende”, o que dá lucro, o que aumenta os “shares”. O “voyeurismo”, a devassa, os casos de polícia, de política e dos tribunais, a miséria humana, o grotesco, o excêntrico.
O que acaba por não admirar por aí além, embora não seja aceitável: porque a comunicação social oferece o que um país inculto quer beber. Não é essa a sua função, obviamente, porque o jornalismo tem obrigação de ser um instrumento de elevação humana e cultural, e não do seu rebaixamento. Mas todos sabemos que actualmente o que manda são os imperativos económicos, os jogos da bolsa, as acções.
Um país positivo, em que se evidenciam as qualidades e potencialidades dos indivíduos e das comunidades, um país em festa, com as manifestações da sua criatividade, de identidade, de cultura e tradição, não interessa nada para a comunicação social.
Definitivamente o que é bom, belo e positivo não “vende”. Logo, não existe!...
(Publicado no Povo de Fafe desta sexta-feira, 30 de Março, na rubrica "Escrita em Dia")
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