1. Lê-se e não se acredita, apesar da crise e de tudo o que possa dizer-se: a Comissão Europeia, liderada por Durão Barroso, que há anos atrás trocou intempestivamente o governo deste país pelo eldorado europeu, propõe ao Estado português salários mais baixos e cortes no subsídio de desemprego. Por outras palavras: trabalhar por menos dinheiro e ser menos generoso no subsídio de desemprego são as principais recomendações de política económica feitas pela Comissão Europeia a Portugal (e, pelos vistos, a Espanha vai pelo mesmo caminho, apesar de os governantes terem camuflado a assistência financeira ao país como uma mera assistência ao sector financeiro, sem compromissos de austeridade. Parece que não será bem assim…).
As más notícias dão conta que “a Comissão Europeia quer uma maior agressividade na redução dos custos laborais em Portugal”. É preciso ter lata!...
Durão Barroso ganha mais de 25 000 euros por mês e tem o descaramento de caucionar (se é que a iniciativa não é dele…) uma recomendação para que o seu país de origem, Portugal, baixe os salários, que são dos mais miseráveis da Europa. O salário mínimo em Portugal soma apenas uns pindéricos 485 euros, enquanto o salário médio de quem trabalha anda pelos 800 euros.
Que é que querem Durão Barroso e a sua Comissão Europeia? Que Portugal tenha ordenados ao nível da China, pagos com uma malga de sopa e uma lata de conserva diária? Que os operários almocem, jantem e durmam na fábrica e só regressem a casa ao fim de semana?
Querem Durão Barroso e a sua civilizada Comissão Europeia que os portugueses regressem ao estado da escravatura selvagem, a trabalhar de sol a sol por uma côdea, como acontecia no tempo da Outra Senhora?!…
O que propõem, quer para os salários, quer para o subsídio de desemprego, é típico dos demagogos que não conhecem minimamente as agruras da vida, que não sabem o que é trabalhar nas fábricas, nas oficinas, nas escolas, nos comércios, nos restaurantes, nos campos. Levantar-se às quatro ou cinco da manhã, tomar dois e três transportes públicos, sobretudo nas grandes cidades, para chegar ao emprego duas ou três horas depois. E, ao fim da tarde, fazer o percurso inverso, para ganhar umas míseras centenas de euros, que não dão para enfrentar mais que umas semanas. Cada vez sobra mais mês no fim do cadavérico ordenado.
Os que têm as carteiras injustamente recheadas, porque não merecem o dinheiro que auferem, não sabem o que é fazer contas no final do mês, encontrar a raíz quadrada do drama em gente de colocar um filho num infantário, outro na escola pública e outro na universidade, sem saber onde encontrar a sustentabilidade financeira para o efeito.
Deveriam ter vergonha na cara, não apenas Durão Barroso, que desceu mil degraus na média consideração que tinha por ele, por ser um “importante” português na Europa (agora, passou a ser apenas mais um inútil e narigudo tecnocrata que vomita bitaites em economês, como fariam as agências de rating), mas o imbecil do António Borges, que também não tem pudor de proclamar a “necessidade e urgência” de cortar os desgraçados salários que os trabalhadores portugueses auferem, para satisfazer a cupidez dos seus amigos capitalistas do FMI, de onde se consta que foi despedido, ele que ganha 225 mil euros anuais (mais de 15 000 euros mensais), escandalosamente livres de impostos (neste país deveria pura e simplesmente constituir crime de lesa pátria alguém estar livre de impostos, seja a que pretexto for…), mais uns milhares por ser o responsável pela venda de empresas do Estado, delapidando o património nacional. É considerado o 13º ministro do Executivo, sem escrutínio democrático ou legislativo. E ainda por cima arroga-se o direito de vir para a praça pública “arrotar postas de pescada”, passe o propositado plebeísmo, quando ninguém lhe encomendou serão algum, a não ser, como bem sublinhou Louçã, que ele seja o sibilino grilo falante do governo!...
No meio de todo este lodaçal, são sempre os mesmos a pagar a crise. Os políticos que tomam decisões erradas e às vezes criminosas são brindados com lugares principescos nos conselhos de administração de empresas públicas e privadas, a ganhar centenas de milhares de euros, dêem elas lucros ou acumulem prejuízos.
Quando se trata de cortar salários ou pensões, congelar progressões, suspender subsídios, são os trabalhadores, a começar pelos funcionários públicos, que são chamados à pedra, para contribuírem para a diminuição da despesa pública. Os trabalhadores não têm culpa de nada. Cumprem ordens. Desempenham as suas funções. Não são eles que aprovam o TGV. Não foram eles que nacionalizaram o BPN. Não foram eles que promoveram as ruinosas parcerias público-privadas, em que o risco é sempre do Estado e o lucro é do capital.
Revoltam e causam o mais profundo asco estes e outros patetas que acham muito bem que se abata nos salários de quem ganha uma ninharia mas não admitem que se corte uma boa fatia de quem acumula fortunas, às vezes sabe-se lá como…
Os baixos salários não são nem podem ser pilares do crescimento económico, como bem referiu o titubeante Presidente da República, numa das poucas coisas acertadas que tem dito ultimamente.
Em termos gerais, que este sistema, capitalista, liberal, o que quer que seja, que governa a Europa e o país, baseado apenas na exploração do trabalho e numa colossal máquina de triturar a classe média e fabricar novos pobres, está putrefacto, não duvidamos. Que vai colapsar, mais ano, menos ano, também não. Não é possível que tão injusto sistema dure muito mais. Porque beneficia apenas uma minoria de abutres e penaliza a imensa maioria da população, sobretudo dos que trabalham ou recebem pensões de reforma.
Que se impõe uma revolução, uma mudança profunda, um novo paradigma, que faça pagar ao sistema financeiro e especulativo os males que tem feito e está a fazer à humanidade, e, neste caso, aos portugueses, é outra certeza.
É tudo uma questão de tempo!
2. Neste regabofe vergonhoso em que se transformou a política e a economia portuguesa, escandaliza (ou já nem tanto…) a notícia de que “o Estado assume dívida de 130 milhões de Aprígio Santos ao BPN” (Correio da Manhã, 28 de Maio). Mas que país é este em que eu e todos os portugueses temos de pagar as dívidas de um criminoso (que foi, ou ainda é, presidente da Naval, da Figueira da Foz) que deixou de pagar as suas obrigações financeiras e não é sequer enclausurado até ao fim da sua vida, para remir os seus pecados?!... Se um desgraçado roubasse um chouriço para matar a fome era preso.
Ainda há poucos meses, o mesmo jornal escrevia que o «Estado assume dívida de políticos no BPN, estando em causa 80 milhões de euros». Na baila, estiveram os nomes de três ex-governantes do PSD, Duarte Lima, Arlindo Carvalho e José Neto. Curiosamente… E nenhum está detido por estas fraudes que, juntas a outras burlas e trapaças, chegariam para pagar três anos de subsídios de férias e de Natal de quem vai ficar sem eles por culpa destes e de outros energúmenos que o sistema político e judicial “premeia” ao manter a sua inimputabilidade.
Somos mesmo uma choldra de país, que nunca irá a lado algum, com princípios e práticas destas, que premeiam o crime, recompensam a vida airada e lesam drasticamente quem trabalha ou quem tem a desdita de ficar desempregado!...
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