A Câmara Municipal de Fafe promoveu, esta quarta-feira à noite, a apresentação pública das propostas para a eventual deslocalização do monumento à Justiça de Fafe, bem como da revisão do projecto do Parque da Cidade, que carece de mais e mais espaços verdes.
Quanto à primeira das questões, a que aqui me interessa, o que está em equação é saber se a estátua deve manter-se nas traseiras do Palácio da Justiça, onde se encontra implantada desde 1981, ou se deve ser deslocada para o topo da Rua António Saldanha (Arcada) do lado do Jardim.
Já ouvi e li as mais díspares opiniões. Todas naturalmente legítimas, respeitáveis e admissíveis. Que o monumento deve manter-se no mesmo local, que nesta altura de crise não se justifica andar a inventar obras supérfluas; que deveria ser transferido para a Arcada; que deveria ser deslocado para a rotunda do “Mário da Louça” ou até para a rotunda da auto-estrada. De tudo um pouco se tem lido e ouvido, nas conversas de café e nos encontros de rua.
Sobre esta questão, e na minha indeclinável qualidade de cidadão, gostaria de deixar também a minha opinião nesta coluna semanal, lamentando não poder ter estado na sessão da autarquia há dois dias atrás.
Faço-o por este meio. Tem o valor que tem. Vale o que vale.
A minha posição coincide, em parte, com a expendida pelo amigo Carlos Rui Abreu, no editorial no Notícias de Fafe da semana passada.
Um monumento, por princípio, não deve ser descontextualizado. É dos livros e da História. Quem o concebeu, executou e implantou deve ser respeitado. No caso concreto, a comissão que há mais de três décadas erigiu o monumento à Justiça de Fafe deve merecer o apreço dos contemporâneos. Porque, publicamente, não se conhecem motivos ponderosos para deslocalizar a estátua, a não ser que se queira alargar o parque de estacionamento do tribunal, numa altura em que este está a perder valências. Logo, não é por aí.
Na minha modesta opinião, o monumento à Justiça de Fafe deve manter-se exactamente no mesmo local onde se encontra implantado.
O espaço envolvente deve ser valorizado e requalificado, abolindo ou minimizando o estacionamento e melhorando as acessibilidades, com uma escadaria e uma rampa de acesso ao monumento, a partir da passadeira frontal aos Correios. Concordo que deve ser devidamente iluminado e destacado, para que ganhe a dignidade e a visibilidade que lhe tem faltado.
Discordo em absoluto da intenção de “trazer a estátua para baixo, próximo da cota da rua”.
Não faz qualquer sentido. Tem é que se criar condições para que os cidadãos e os turistas se desloquem ao monumento para o fruir, e não fazer descer o monumento para o nível da rua.
Qualquer dia, nesta lógica, e porque não tem visibilidade da zona da rotunda do “Mário da Louça”, deslocalizamos o Jardim do Calvário para o centro da Praça 25 de Abril. Em Guimarães, como a Penha não se vê do Toural, planta-se ali mesmo, no coração da Cidade-Berço. Não faz o mínimo sentido!
Para mim, não há qualquer outra solução. Muito menos a da deslocação do monumento para a Arcada, alegadamente para “melhorar a interacção” da estátua com o público. Mas que “interacção” pode haver com uma imagem agressiva, belicosa, combativa?
O monumento não ganha nada em sair do local onde se encontra e Fafe não ganha, na minha perspectiva, em colocar o monumento da Justiça de Fafe em outro local.
Hemos de convir, doa a quem doer, que a “Justiça” não é um símbolo consensual na sociedade fafense e que, no fim de contas, não abona grandemente a dignidade identitária dos fafenses, apesar de, fora de Fafe, e mesmo em Fafe, ser um dos ícones por que somos reconhecidos e distinguidos. Mas, por mim, duvido que o simbolismo da Justiça nos nossos dias seja positivo e a justificação está em que, no dia-a-dia, quando, na imprensa ou na política, se fala da “Justiça de Fafe” se fale por boas razões. Quando se fala do assunto é para se aludir a “fazer justiça pelas próprias mãos”, à revelia da legalidade constitucional que tece o Estado Democrático.
Não me amofino nada que me chamem “intelectual” por não ir muito à bola com a “Justiça de Fafe”, embora respeite quem adore este costume. É uma tradição como outra qualquer, embora mais conhecida que outras. Não me parece que seja a que mais dignifica as gentes e o município de Fafe.
Por isso, não entendo a necessidade de estar a mexer no monumento e muito menos a deslocá-lo, alegando a sua escassa “visibilidade”. É a minha modesta opinião, claro! Que vale o que vale. Mas vale tanto, certamente, como as outras!
PS – Por falar de “invisibilidade”, desafio os leitores a adivinharem onde se localiza o “Monumento ao Músico” e que existe na cidade de Fafe há muitos anos, para homenagear as afamadas filarmónicas locais, que são as melhores do país. Procurem-no…E as bandas de música são valores francamente positivos da cultura e da identidade locais, sem qualquer dúvida!
("Escrita em Dia", in Povo de Fafe, 01.06.2012)
3 comentários:
Dr. Coimbra, boa noite!
Pois a mim também me parece que a estátua deve permanecer onde foi colocada inicialmente.
Quanto ao “Monumento ao Músico”, lamento, mas não sei onde se encontra!
Beijinho,
Ana Martins
Cara Ana Martins: eu que, há 30 anos, quando fui vereador da Câmara, fui o promotor da ideia da construção de um Monumento do Músico, levanto o véu: está localizado na Rua David Mourão Ferreira, ao lado da Fábrica Alvorada. É um monumento que está no meio da rua. Vê-se bem...
Concordo plenamente. A Justiça de Fafe está bem onde está apenas todo o espaço deveria ser remodelado desde a "Rua da Igreja Nova" até à dos Correios dando assim uma melhor visibilidade e um ar mais convidativo à visita.
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