domingo, 24 de junho de 2012

Viagem pelos Monumentos da cidade de Fafe (I)

MONUMENTO AOS MORTOS DA GRANDE GUERRA

Aproveitando a "boleia" do debate público sobre a eventual deslocalização do monumento da Justiça de Fafe, com a qual discordamos em absoluto, como já aqui escrevemos, vamos passar em revista os principais monumentos existentes na cidade (e depois, nas aldeias), para melhor informação dos nossos leitores. Até porque muitos fafenses não sabem onde se localizam os monumentos, ou desconhecem a sua designação, simbolismo ou o que homenageiam.
Começamos esta breve viagem pelo Monumento que homenageia os mortos da Primeira Grande Guerra Mundial. 

Localizado no “coração” da cidade, na Praça 25 de Abril, o Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra, é o mais antigo dos monumentos de que a cidade de Fafe dispõe. Os preparativos para a sua construção remontam ao ano de 1920, em plena 1ª República e dois anos após o término da Primeira Grande Guerra Mundial, quando a Câmara Municipal – na sequência de um apelo lançado pela Junta Patriótica do Norte, em 30 de Julho de 1919 – deliberou delegar numa comissão de ilustres fafenses o patriótico encargo de levar a efeito a perpetuação da memória dos filhos desta terra que morreram nos campos da batalha de África e França. Integravam essa comissão o Dr. Parcídio de Matos, pela Câmara, Dr. José Summavielle Soares, pela Associação Comercial e Industrial de Fafe, Dr. Florêncio Monteiro Vieira de Castro, pelo Sindicato Agrícola de Fafe, Domingos da Costa, pela Associação de Classe das Quatro Artes de Construção Civil, João da Silva Ribeiro, pela Associação de Classe dos Trabalhadores de Fafe, Júlio Martins, pela Associação de Classe dos Empregados do Comércio de Fafe, Artur Pinto Bastos, pela Imprensa de Fafe, António Joaquim Teixeira, pelo Núcleo do Professorado Primário de Fafe e Dr. Artur Vieira de Castro, pela Escola Superior de Fafe.
Foi efectuado uma subscrição, para angariação de fundos, por todo o concelho e só mais de uma década depois o Monumento aos Mortos da Grande Guerra se tornou uma realidade.
O auto de colocação da primeira pedra ocorreu no dia 17 de Maio de 1931, na “placa norte da Praça da República”, onde se deslocou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal, sob a presidência do cidadão José Garcia de Almeida Guimarães, seu vogal mais velho, servindo de presidente.
O monumento, quadrangular, da autoria do arquitecto Manuel Faria Marques dos Reis, tem 6,80 metros de altura, sendo construído em diversas qualidades de mármore. A placa principal, representando um soldado ferido mortalmente (da autoria de Zeferino Couto), bem como a cruz de Cristo que encima o monumento, são em bronze, para maior valorização do mesmo. Nos quatro lados do monumento, a meia altura, estão inscritos os nomes de locais de batalhas da Guerra de 1914-18: La Lys, Ruvuma, Fauquissart, La Couture, Neuve-Chapelle, Chapigny, Flandres (onde, entre muitos outros, certamente, esteve o nosso conterrâneo Major Miguel Ferreira), Naulila e Nevala. Diversos festões e a esfera armilar integram um monumento de linhas sóbrias, construído pela oficina de Joaquim Fernandes Álvares & Cª, de Guimarães, pelo montante de 23 500$00.
Menos de dois meses após a adjudicação, o monumento foi inaugurado com a maior pompa e circunstância, no dia 12 de Julho de 1931, pelas 16 horas, no âmbito das Festas em honra de Nª Sª de Antime. Perante um largo completamente pejado de gente, a crer nos jornais da época, não faltou a presença de dois ministros do Governo: do Interior e da Guerra. Da festividade, abrilhantada por seis bandas de música, foi lavrado o auto respectivo.
Relatava o jornal local O Desforço do dia 23 seguinte:
As festas de 11 e 12 de Julho de 1931 ficam bem gravadas na memória de todos pelo significado cívico que tiveram – A inauguração do monumento aos Mortos da Grande Guerra e o aparato bélico que a revestiu.
A comissão das Grandes Festas de Fafe que foi a iniciadora deste Monumento que aí fica a perpetuar a memória dos que morreram na Grande hecatombe, levou com brilho a cabo a sua missão.
A Câmara, que aproveitou a ideia de realizar uma obra justa e que depois se prontificou a custear todas as despesas, é, como aquela, digna de aplausos.
As Festas da véspera já estiveram belas, mas, as do dia 12, foram brilhantíssimas.
Concorreram a elas milhares e milhares de pessoas de longe e de perto, tão atraentes e grandiosas são já, de tanta e justificada fama gozam, precisamente, no país.
Festas de Fafe, senhora de Antime!
Fafe, terra bela já em si, cheia de encantos naturais, vestiu-se de galas, desses ornamentos preciosos que Constantino Lira sabe empregar para actos solenes, os quais juntos às belezas naturais, a tornavam mais maravilhosa ainda.
Agradáveis os festivais de sábado no Bairro Operário de Antime e no Jardim do Calvário.
Pitoresco o grande arraial de Domingo na Vila, com as suas tendas e diversões.
Aparatosa a chegada de Caçadores 9 e da Banda do 8. Recrudesce o entusiasmo, a alegria, porque surge a procissão e aparece então, a famosa imagem da Senhora de Antime acompanhada por uma interminável multidão de devotos.
Veículos, de todos os lados, vêm às dezenas, comboios sempre apinhados.
É que se aproxima a hora da inauguração do Monumento e todos querem assistir.
Não se cabe no vasto Largo.
Tudo se prepara, pois, para o momento solene. Chegam os Senhores Ministros do Interior e da Guerra que são recebidos nos Paços do Concelho. Pouco depois, é o descerramento, perante elementos oficiais militares e civis, associações, colectividades etc. com calorosas salvas de palmas da imensa assistência, executando-se nessa ocasião, as 6 bandas a Portuguesa e estrondeando no ar profuso fogo.
Agrada o discurso do Capelão Militar da Grande Guerra Ver. José Pinho, todo alusivo ao acto e manifestamente patriótico.
Depois regressa a procissão a Antime, juntando-se no Lombo, para assistir ás despedidas e ver queimar o tradicional castelo, uma compacta multidão.
E, por fim, enquanto o banquete em honra dos senhores Ministros e das autoridades superiores do distrito corre, As iluminações do lira de Felgueiras brilham, os fogos de Lanhelas sobressaem e as bandas vibram sons de entusiasmo e alegria.
O regresso dos visitantes é pelas 2 horas. Surpreendente fogo preso inicia a sua queima às 3 e o bouquet rematante ilumina os ares pelas 4 horas, lindo, multicolor.
No entanto, as musicas prosseguem nos seus coretos, o povo continua divertindo-se em danças e descantes e, quando vê o sol despontar, é que se lembra que as festas terminaram. Recolhe então a casa, mas não sem saudades…
E da forma como decorreram a recepção na Câmara e o banquete, já o disseram os grandes diários de Lisboa, Porto e Braga, o que supérfluo é repetir.


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