quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Poesia fafense está de luto: deixou-nos Augusto Fera!

A poesia fafense está de luto. Faleceu hoje o grande poeta Augusto Fera, aos 72 anos de idade. Tive o privilégio de, há exactamente um ano, organizar, prefaciar e anotar o seu primeiro e único livro, “Cruz de Chumbo e outros poemas”, editado em boa hora pela Junta de Freguesia de Fafe e pelo amigo José Mário Silva. Gravei também um CD com os seus poemas. Estou francamente desolado.
Nada fazia prever o triste desenlace. Era um homem ainda relativamente novo (velhos são os trapos). Admirei-o desde sempre, coleccionei a sua poesia, de enorme qualidade literária e estética. Apesar de invisual, via o melhor que a poesia tem, em sensibilidade, em criatividade, em imaginação.
Sendo autodidacta, era um nome maior da poesia fafense, sem qualquer dúvida.
Por ocasião do lançamento do seu livro, em Novembro de 2011
Augusto Fera era o pseudónimo literário de Augusto Ferreira, natural de Armil (29 de Dezembro de 1939). Devido a um acidente com uma ratoeira de fogo, armada num campo do padrinho e onde ia buscar uma bola, cegou com apenas 6 anos de idade. No entanto, desde os 18 anos, abraçou a arte de versejar, e que disseminou por revistas e jornais, cultivando sobretudo o género poético da quadra. Obteve inúmeras distinções ao longo da sua carreira poética, em concursos e jogos florais. Exerceu durante largos anos o lugar de telefonista na Companhia de Fiação e Tecidos, do qual se aposentou há mais de uma década.
Participou nas colectâneas Poetas de Fafe (1985) e Homenagem a Soledade Summavielle (1988).
Com o filho Filipe

Com a adorada esposa
Augusto Fera escreveu imensos poemas, mas um dos que ficou mais conhecido foi

INCONFORMISMO
 
Que hora herdou a coroa de oiro fino
Da dinastia de horas enlutadas?
A quem deu o retrós das madrugadas
As contas do colar diamantino?

Onde soltam as mãos do sol bambino
As borboletas de asas pintalgadas?
Que tálamo de musas ou de fadas
Debruará o arco-íris peregrino?

Que é da nau deste chilre que me chega?
Que é das rendas das filhas de Nereu?
Onde coram as faces matinais?

Se foi para brinca à cabra-cega
Que Tu, meu Deus, vendaste os olhos meus,
Desvenda-os, que eu não quero brincar mais.

(Fotos: Jesus Martinho)

1 comentário:

Unknown disse...

Sr. Dr. Artur Coimbra,
Também só hoje, através de uma partilha do BlogMontelongo Fafe, tomei conhecimento deste seu texto.
Muito Obrigado.