quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meu querido mês de Agosto (4)

É óptima “A Terra do Chiculate”
O lançamento da obra A Terra do Chiculate – relatos da emigração portuguesa, de Isabel Mateus, na Biblioteca Municipal de Fafe, constituiu um momento importante do ponto de vista cultural e de catarse desse fenómeno colectivo que foi a emigração clandestina para França, no início dos anos 60 do século passado. Já passaram 50 anos, mas ainda poucos se atrevem a abrir esse assunto-tabú do Portugal Contemporâneo. A “emigração a salto” é aqui tratada de uma forma pioneira, na perspectiva de uma criança, cuja mãe foi para terras gaulesas nos primórdios da emigração, deixando-a aos cuidados da avó e regressou, passados alguns anos, o que suscitou conflitos interiores de grande dimensão psicológica entre as personagens. Também a figura do “passador” é abordada pela primeira vez, o que reforça a importância e interesse da obra.
A jovem autarca portuguesa do município de Metz, em França, Nathalie Oliveira, que veio apresentar o livro, considerou que Isabel Mateus “é uma mulher de grande dimensão, apesar de aparentemente frágil, com uma escrita forte”, em que conseguiu “sublimar a história da emigração”, dando voz a muitas vozes. A Terra do Chiculate é um trabalho de grande qualidade humana e literária, que importa sublinhar. Lê-se como um documentário do que foram aqueles difíceis anos nos bairros de lata de Champigny.
Presente esteve também Maria da Conceição Melhorado, hoje uma docente do ensino secundário da zona de Coimbra, a menina que embala a boneca e come um bolo típico do Natal transmontano, captada com rara felicidade pelo famoso fotógrafo Gérald Bloncourt, em 1966. Considerou-se uma anti-heroína que representa “todas as crianças que foram a salto para França”. Também ela verbalizou a “vergonha relativamente aos bidonvilles”, apesar de considerar, na esteira de Bloncourt, que foram os emigrantes que construíram Paris.
Conceição Melhorado concluiu que Isabel Mateus “conseguiu passar para o papel tudo aquilo que os emigrantes sentiram”.
A autora espraiou as suas palavras nos agradecimentos e reiterou que a obra se destina a provocar alguma reflexão sobre o tema, visando “um melhor conhecimento do fenómeno da emigração clandestina para França” e que iam geralmente cair aos bairros de lata de Paris. Relembre-se que passaram pelos famigerados “bidonvilles” cerca de 120 mil portugueses, que depois dariam o salto para melhores condições de vida e de instalação.
A Terra do Chiculate – relatos da emigração portuguesa é uma obra cuja leitura se recomenda, a qualquer leitor, mas sobretudo aos que sentem a emigração, directa ou indirectamente. Que são quase todos os portugueses. Pois não há família, sobretudo no norte ou no centro do país, que não tenha um ou vários emigrantes no seu seio.
Juntam-se algumas fotografias do evento, como sempre com a competente assinatura de Manuel Meira Correia.







1 comentário:

Anónimo disse...

Bom dia,

Peco desculpa por so agora visitar o seu blogue, mas tenho a desculpa de tambem ter passado o "querido mes de Agosto em Portugal"...
Quero agradecer-lhe o belissimo texto relativo ao meu livro "A Terra do Chiculate", assim como as bonitas fotografias que lhe dao realce (os meus agradecimentos vao igualmente para o fotografo).

Aproveito para lhe dar os parabens pela qualidade do seu blogue.
Agradeco igualmente o envio das fotos acerca do evento do lancamento do meu livro em Fafe.

Muito obrigada e ate breve!

Isabel Mateus