O feriado do Corpo de Deus foi o último comemorado neste dia. Nos próximos cinco anos, pelo menos, será evocado no domingo seguinte, alegadamente em nome da crise. O acordo entre o Governo e a Igreja assim o ditou e poderá mesmo traduzir-se no fim deste feriado.
Só a miopia política de um governo ignorante e sem qualquer cultura histórica e religiosa e a posição rastejante da Igreja Portuguesa, em geral, com a saudável excepção de D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, conduzem ao triste epílogo da anulação de um “dia santo” que tem já sete séculos e meio de vigência.
Só a atitude mercantilista e economicista, no pior sentido, deste governo, sem alma e sem patriotismo, se traduz na diminuição (a partir de 2013) dos dois feriados religiosos (Corpo de Deus e Dia de Todos os Santos) e dois feriados civis (Proclamação da República e Restauração da Independência), que nada resolvem em termos económicos e financeiros. A produtividade não se resolve assim. O que o governo pretende é escravizar ainda mais os trabalhadores, fazendo-os trabalhar mais por igual (ou ainda menos) dinheiro. Mas é evidente que os portugueses saberão, na altura devida, dar a conveniente resposta que Passos, Relvas e comandita merecem!... Obviamente!...
Retomando o fio à meada…
Desde o século XII, quase não há em Portugal cidade ou lugar que prescindam da celebração da festa do Corpo de Deus, invocadora do "triunfo do amor de Cristo pelo Santíssimo Sacramento da Eucaristia".
A solenidade do "Corpo de Deus" começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na actual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.
Teria chegado a Portugal provavelmente nos finais do século XIII e tomou a denominação de Festa de Corpo de Deus, embora o mistério e a festa da Eucaristia seja o Corpo de Cristo. Esta exultação popular à Eucaristia é manifestada no 60° dia após a Páscoa e forçosamente a uma Quinta-feira, fazendo assim a união íntima com a Última Ceia de Quinta-feira Santa. Vai deixar de ser “forçosamente”. Talvez a “Última Ceia de Quinta-feira Santa” tenha de passar para sábado à noite ou domingo de Páscoa, para satisfazer os caprichos da troika e do Gaspar!...
Uma das expressões mais tradicionais desta festividade é a procissão com o Santíssimo Sacramento. Seguindo os especialistas, o cortejo processional da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo prolonga a Eucaristia: logo depois da missa, a hóstia nela consagrada é levada para fora do espaço celebrativo, a fim de que os fiéis dêem testemunho público de fé e veneração ao Santíssimo Sacramento.
Historicamente, a Festa do Corpo de Deus impôs-se na maioria das cidades e nos municípios, onde era encargo das autarquias, e nas quais as autoridades participavam activamente.
Em Fafe, coincidem neste dia as primeiras comunhões e realiza-se também uma grandiosa procissão, da Igreja Matriz para a Igreja Nova de S. José e que inclui fanfarra, escuteiros, cruz, ladeada pelos lanternins, Cruzada Eucarística, grupo de jovens, mulheres católicas, Congregação Mariana, Legião de Maria, Conferência Vicentina, Apostolado da Oração, Irmandade do Rosário, Irmandade das Almas, Irmandade da Misericórdia, Confraria do SS.mo Sacramento, ministros da Eucaristia, religiosas, clero, pálio, com SS.mo Sacramento, autoridades, organismos civis, banda de música e povo.
Historicamente, era a “grande festa da cidade”, de todas as cidades.
Hoje já não é assim, pela própria evolução das sociedades. Mas continuamos a falar ainda de uma festividade fundamental no contexto histórico, religioso e social deste país (e da cristandade). E para quem passa a vida a encher a boca de que é imperioso respeitar os valores cristãos e católicos da maioria do povo português, não deixa de ser desgraçadamente infeliz este ataque aos sentimentos e tradições do povo que se diz venerar!...
1 comentário:
Dr. Coimbra, boa noite!
Isto é até vergonhoso, não são 4 feriados que vão levantar a economia do país. Há muito que digo que vivemos uma ditadura camuflada, mas o pior é que pressinto um povo resignado. O mesmo povo, a quem o Sr. Primeiro ministro chama umas vezes de piegas, outras de paciente e por quem ultimamente tem até compaixão.
E, enquanto isso, "lambem" as botas à troika e escravizam-nos.
Espero bem que a seu tempo, os Portugueses saibam mostrar a sua indignação e descontentamento.
Beijinho,
Ana Martins
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